Insónia
Insónia surge no ambiente conturbado do dia a dia, onde a mecanização das nossas vidas nos transpõe para um universo de tensão, de padrões regularizados.
Para alguns uma perturbação, para outros uma companheira na noite e no dia.
Numa práxis quotidiana cada vez mais intensa, onde o tempo anda sempre contra nós, o ritmo frenético para apenas sermos alguém, os objectivos traçados e as metas a cumprir são suficientes para alertar o sono. Ele que não é o convidado de honra em mais uma noite.
Há muito para fazer, ouvir, ver nesta sociedade totalmente subjugada ao instantâneo. Numa sociedade onde a notícia está acessível as 24 horas do dia, em que a tecnologia dos média eliminou os fusos horários e que cada hora é mais importante
do que outra. Portanto para quê dormir?
E quando tentamos dormir…
Podemos tentar contar carneiros. Chegamos ao número 1256 e estamos mais despertos que nunca. Começamos a ler um livro, uma revista, o rótulo de uma embalagem qualquer e nada serve.
Começamos a falar sozinhos, liga-se a televisão… Fazemos zapping e ficamos a ver televendas. A mesma propaganda de um qualquer produto repetidamente.
Como podemos dormir se a noite é tão clara como o dia?
Num ambiente de sonambulismo, entre o adormecer e o acordar, esta coreografia é representada por uma agitação constante sendo invadida por sonhos, momentos de calma e até de comédia inspirados no nosso quotidiano. A Insónia é tratada, não na sua escuridão, mas sim como perturbação de diferentes estados de espírito e sinestesias que nos levam a viajar, transpondo por vezes o próprio espelho, onde o grito surge para além do eco.
Insónia é o reflexo da constante atenção e vigília, que o Homem contemporâneo se habituou a ter e a ser para sobreviver. Por isso Insónia poderá não ser somente uma falta do sono.
Para muitos de nós é estilo de vida.
(Juliana Andrade e Ricardo Mendes)
Ficha Artística
Coreografia: Juliana Andrade e Ricardo Mendes
Banda sonora: Thomas Newman, Robert Milles e Tan Dun
Figurinos: Nuno Luís
Desenho de luz: Henrique Amoedo e Maurício Freitas
Produção: DREER - Direcção Regional de Educação Especial e Reabilitação
Estreia mundial: 19/11/2004 Funchal (Portugal)